
III colóqui (o) cuir
da série drag colóquios
mostra de performance cuir
2024
Mostra de performances cuir que faz reading do colóquio acadêmico, com lip sync e tudo. Realizada na escadaria da catedral metropolitana de Florianópolis por um grupo de artistas LGBTQIAPN+, como forma de intervenção urbana e protesto contra o conservadorismo catarinense.
MÉTODO DE ORGANIZAÇÃO: QUEERIZAR/ESQUISITAR A ESTRUTURA-COLÓQUIO
1 - solenidade de abertura:
roda de montação, colaboratório de tarot, lavagem da escadaria (com chuqueira)
2 - mesa de conferencistas:
batismo dos mil nomes, sermão travesti
3 - apresentação de papers:
cartografias da sedução, teoria da bolsa, santinhos, lambes
4 - coffee break
boteCU (15 mesas de plástico e litrão)
5 - oficinas
voguing, rouba-bandeira cuir
6 - encerramento
karaocuir, festa de fechação
7 - publicação dos anais
(ou orais)
“é um colóquio. o auditório é a escadaria da catedral. a mesa é o platô no meio dela. as cadeiras são os degraus. as bandeiras nacional e de SC (que pelo protocolo deveriam ser hasteadas ao lado direito da mesa) são 14 bandeiras cuir estendidas pelos degraus (do lado esquerdo). com destaque para o banner imenso da praça das lésbicas pendurado ao lado da estátua do papa joão paulo II (o único papa que visitou SC & um dos maiores responsáveis pelo fim dos regimes comunistas na europa + oponente dos métodos contraceptivos + defensor de padres abusadores de menores). em cima das bandeiras, um grande espelho e dezenas de coisinhas para a montação coletiva dos nossos corpos: asa de anjo, perucas, chifrinhos, macacão de vaca, makes, chicote, luvas, máscaras. pois não basta ser cuir, tem que parecer cuir (e dá pra ser cuir sem parecer cuir? cuir não é precisamente (ou imprecisamente) a existência inassimilável pelos armários (incluindo os estatais)?). o mais cuir possível numa terça à tarde, na frente da igreja. cuir no sentido de esquisito mesmo, curupiranha. montades e em bando enfrentamos os dedos que nos apontam; os grupinhos conservadores que começam a se formar no entorno; as pessoas que nos encaram entre o riso, o choque e o nojo; as pessoas que nos filmam escondidas. prosseguimos alegremente com nossa denúncia-deboche-afronta em 160w de potência. um casal de noiva-noivo que planejava fazer um book na frente da catedral tenta resolver o problema (nós) no ângulo e desiste. várias freiras nos rodeiam boquiabertas. o diácono desamarra as cordas do banner da praça das lésbicas e o deixa cair no chão sem dizer uma só palavra. policiais intervêm três vezes, eu tento levá-los na conversa: isso aqui é coisa da universidade, colóquio, ciência mon amour, mas estou vestida de Profona (salto 15, saia lápis, óculos gatinho, colar de pérolas falsas com dois canetões pendurados de pingentes, cinto de clipes, unhas stiletto, boton dourado da UDESC na lapela, uma pilha de livros cuir nos braços) e a polícia me olha dos pés à cabeça sem acreditar que a drag professora é de fato professora. nós tínhamos um plano de refúgio em caso de expulsão (a. migrar para o largo da alfândega, b. migrar para a escadaria da ubro), mas não foi necessário. numa terça à tarde, na frente da igreja, ninguém soube o que fazer com nossos corpos, nem mesmo expulsá-los”.
(Debora Pazetto, trecho do prefácio dos Anais do III colóquio o cuir)
Artistas participantes:
Yuri Kuscinski, ciber_org, bicha rata, Ariane Oliveira, williany, Léo Eslabão, Bethânia Hardt, Claudio Moreira, Faetusa Tirzah, Guilherme Bruschi, Joanna Leoni, João Victor Elias, Julia B, Letícia Haines, Lívia Auler, Marcella Pimentel, Marcello Lucena, romy huber, Maria Júlia Amboni, nestor varela, Tiago Meirelles, Bárbara Telles, Caê Beck.